Consagração Chiquitana

Pe. Aloir Pacini, sJ

Tivemos uma semana intensa de preparação aos primeiros votos da Sonia Tossué Muquissai, filha do casal de caciques Fernandes Muquissai e Elisabete Tossué da aldeia Chiquitana Vila Nova Barbecho.  Os missionários (Irmãs e Leigos) vieram de  Poconé, Cuiabá, Cáceres, Manaus, Porto Estrela e Bolívia para fazerem parte desta linda missão.

No domingo dia 10/01/16 a Comunidade Imaculada Conceição ofereceu um almoço de confraternização aos missionários. O Pe. Orlando agradeceu a presença e doação de cada um, abençoou os que vieram se juntar aos missionários locais e os enviou dois a dois para fazer o bem sem olhar a quem.

O primeiro lugar de atuação mais intensa nesta semana missionária foi no  Assentamento de trabalhadores rurais  Sadia – Comunidade Sagrado Coração ( dia 11/01/2016). Ali foi visitado o monumento que recorda a morte/ressurreição das Irmãs azuis que se acidentaram 19 de novembro de 1993.

No dia 12/01/16, ficamos no  Assentamento Paiol – Comunidade Nossa senhora Aparecida.

No dia 13/01/16, fizemos morada no  Assentamento Paiol – Comunidade Bom Jesus.

Nestas comunidades rurais visitamos as famílias refletindo o Evangelho em suas vidas,abençoamos os doentes, casas e famílias. Escutamos muitas histórias de vida, partilhamos o objetivo de nossa missão e contamos a história de vida de Santa Emilie de Villeneuve, nossa Fundadora. De noite, reunimos para celebrar o chamado que Deus nos faz à VIDA. Dos dias 14 a 16/01/16, aconteceu o tríduo na periferia urbana de Cáceres.

O 1º dia do tríduo foi na Comunidade Santa Luzia com o Tema: “Mulher e Homem Missionários realizando a Vontade de Deus”.

Na sexta-feira (15/01/16), à tarde, aconteceu a audiência com a Procuradora da República no Ministério Público Federal de Cáceres, Ana Carolina Haliuc Bragança (PR.MT), que trouxe alento para as demandas dos Chiquitanos. Esta foi uma das alegrias do cacique Fernandes Muquissai que se manifestou corajosamente em favor de sua aldeia. E a missão continuou na Comunidade Jardim União onde os missionários continuam as visitas às famílias. No final da tarde, celebramos numa casa de família um dia de Missão com grande participação popular. Celebramos o 2º dia do tríduo com o Tema: “ Seguimento de Jesus Eucarístico: Compromisso de Solidariedade e Paz”.

Neste ínterim,  chegaram muitas pessoas de Santa Cruz de La Sierra onde a Irmã Sonia fez o Noviciado. No sábado, a Missão continuou na comunidade Nossa Senhora da Guia com a participação em peso da Aldeia Vila Nova Barbecho. A Comunidade chegou com um ônibus fretado para este evento dos votos da Irmã Sonia. Ali celebramos o 3º dia do tríduo com o Tema: “ Emilie: Uma Mulher, Uma Paixão, Um Projeto. Aberta ao sonho de Deus. São Sebastião: Um homem de fé, destemido e apaixonado pelo cristianismo”

 

 

Foi muito bom ver este fruto do trabalho de anos junto da aldeia Vila Nova Barbecho desabrochar! Nossa alegria foi grande porque a Irmã Sonia não abandonou as suas raízes, ao contrário, sua formação na Congregação aprofundou seu compromisso com sua etnia e a luta de sua aldeia que estava prestes a ser expulsa pelos fazendeiros e políticos do Mato Grosso. Conheceu as Irmãs graças à equipe solidária itinerante do CIMI-MT que visita e apoia decididamente as aldeias: Chiquitanos na fronteira com a Bolívia desde 2005. Foi nesta Congregação que aprendeu a amar mais os membros sofredores de Cristo crucificado.

A família trouxe a noviça Sonia para ser consagrada a Deus com os símbolos de sua cultura: o tear e a rede, o baquité, o pote... A alegria deste dia 17/01/2016 é que na periferia do mundo aconteceu uma Celebração Eucarística onde a Irmã Sonia Alzira Tossué Muquissai, uma Chiquitana comprometida com sua etnia, se consagrou a Deus emitindo os votos na Congregação das Irmãs da Imaculada Conceição de Castres, conhecidas como “Irmãs Azuis”. A Paróquia São Sebastião de Cáceres acolheu esta manisfestação religiosa que brota do Evangelho!

Comungar no corpo e sangue de Cristo é comungar na sua Missão. A festa foi muito bonita e contou com a presença de numerosas Irmãs, quase toda a aldeia da Ir. Sonia com sua orquestra de violinos, um bom grupo de Chiquitanos da Bolívia e populares em geral que acompanham com carinho os problemas na demarcação das terras Chiquitanas. A celebração foi muito intensa e participada porque os Chiquitanos abraçaram a religião católica de coração e formam uma unidade digna de recordações. Enfim, aconteceu a dança do curussé tocada pela orquestra de violinos com ritmos indígenas e puxado por um ancião, mas ali se juntaram Chiquitanos, Irmãs Azuis e todos nós.

Assim se manifestou Luiz Betrão, de Brasilia: Que maravilha ver uma Irmã Chiquitana se consagrar a Deus como Irmã. Os consagrados escolhem essa vida de oferta tendo sempre um Outro como referente. O amor a Ele e a Sua causa é tamanho que não cabem em si. Isso, aliás, já cantava Djavan: “Por ser exato, o Amor não cabe em si. Por ser encantado, o Amor revela-se. Por ser Amor, invade, e fim”. Alegra-me, particularmente, tal consagração nascer do ventre da terra, no meio dos pobres. Foi-se o tempo de uma Igreja eurocêntrica, que via nos povos de missão meros destinatários passivos das boas novas de salvação (boas novas que vinham acompanhadas da espada, da tortura, de doenças e de pobreza). Irmã Sonia é prova viva da profecia paulina de que, em Cristo, “não há judeu nem negro; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” ( Gal 3,28)

Que belo é ver uma Igreja ( povo que constrói o Reino na história) que é adornada por pérolas multiculturais e pluriétnicas. Uma bofetada nos pseudo-cristãos arianos, que se enclausuram numa não menos pseudo-igreja estática, poderosa, aliada às estruturas de poder e que torce pela imutabilidade das situações.

 

Parabéns, Ir. Sonia, por teus votos e tua mística desde tua raiz cultural. Por nós cumprimento antecipado, ainda que parcial, de que, um dia, Deus será tudo em todos. Meu abraço. Ver fotos>>

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